Estamos vivendo a era da transformação digital. Diariamente, novas possibilidades e ferramentas são descobertas e empresas estão sentindo a necessidade de rever processos e métodos de trabalho. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, é uma consequência das mudanças que esse universo digital vêm causando e, desde 18 de setembro de 2020, exige que todas as instituições que coletam e armazenam dados pessoais se adequem e implementem novos mecanismos para proteger esse conteúdo.
Uma das principais características da transformação digital é o foco na experiência do cliente final e isso se relaciona diretamente com o nível de informações que possuímos sobre os mesmos. É preciso compreender o seu comportamento e necessidades para que seja possível montar produtos e soluções criadas especialmente para essa jornada de compra. Porém, isso exigirá que a sua empresa proporcione segurança e a garantia de que esses dados serão utilizados apenas para determinados fins.
No livro “Organizações Exponenciais”, os autores Ismail, Malone e Geest explicam que existem muitas formas de inovar e vários níveis de maturidade, pois essa é uma nova jornada a ser seguida. Aqui, uma dica para se adequar à Lei é começar a otimizar alguns processos que já estavam sendo implementados, utilizando as tecnologias que habilitam isso ao seu favor.
Para sanar todas as dúvidas sobre o tema, convidamos o Head de Inteligência artificial e analytics da Stefanini, Marco Aurélio Péres, para esclarecer quais são as principais mudanças que a LGPD vai causar e como ela pode ser usada até mesmo como uma ferramenta de inovação.
Quais são as vantagens da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)?
A principal vantagem da LGPD é que as empresas serão forçadas a gerar serviços de maior qualidade para que as pessoas sejam convencidas a fornecer os seus dados.
O cofundador do EcoTrust, Vinicius Durbano, afirma que: “A LGPD está obrigando a elevar a régua de maturidade das empresas de todos os tamanhos. Então se você não conhecia bem as regulamentações dos seguimentos, você vai ter que começar a conhecer e fazer as relações. Se você não cuidava bem da segurança, se não era prioridade, isso vai ter que virar”. Além disso, outro benefício da LGPD é que a lei também auxilia na visão que os outros países têm sobre o Brasil, mostrando mais credibilidade e preocupação com o tema.
Qual a importância das startups para as empresas tradicionais?
As startups são nativas digitais e já nascem com um olhar no futuro, tendo a inovação como um dos principais pilares de trabalho. Essas características se tornam uma ameaça para grandes empresas, que tem uma estrutura de custos fixos, processos e uma série de itens que precisam ser mantidos antes de começar a transformação, enquanto as startups precisam de um baixo custo para serem criadas.
Por isso as startups se tornam tão importantes, por incentivarem que empresas tradicionais continuem buscando inovar para acompanhar todas essas transformações digitais. Muitas vezes a melhor opção para acompanhar as mudanças é focar em uma pequena área da empresa até entrar no core e tornar a inovação presente em todas as áreas. Por mais que comece aos poucos, o importante é dar o primeiro passo para não ficar pra trás. De acordo com Marco Aurélio, esse é um movimento que é imprescindível, se não acontecer, fatalmente as empresas vão deixar de existir.
A LGPD vai dificultar a inovação?
Um aspecto positivo da LGPD é que as empresas vão ser obrigadas a entregar realmente o valor pras pessoas. Uma vez que a pessoa observar esse valor, ela não vai ter problema nenhum em entregar os seus dados pessoais, desde que estejam proporcionais às normas.
“É perigoso esse pensamento de que a inovação vai ser travada pela LGPD. É claro que ela vai ser um pouco mais dificultada, quando a gente quer ter um atendimento, um serviço mais focado no indivíduo. Mas, ao mesmo tempo, quando a gente consegue oferecer, isso vai forçar, vai subir o sarrafa. Vai colocar mais credibilidade e mais critério para as empresas criarem serviços”, explica Marco Aurélio.
As empresas de dados vão morrer?
Para o especialista, algumas empresas de dados vão morrer sim e outras vão aproveitar a oportunidade. As empresas de dados que vão deixar de existir, são aquelas que usam de forma indevida os dados dos seus clientes, compartilhando as informações sem o consentimento dos mesmos. Mas por outro lado, as empresas de dados vão ter uma oportunidade de transmitir maior credibilidade para os clientes, deixando claro para eles o que vai ser feito com seus dados e para onde eles vão.
Um novo movimento se iniciará onde as pessoas terão transparência de para onde os seus dados são direcionados. “Os indivíduos, cada vez mais, vão perceber que os dados delas tem valor monetário, inclusive” – fala o Head de Inteligência artificial e analytics da Stefanini. Com isso, novos modelos de negócios surgirão e novas possibilidades de trabalho.
Quais são os cuidados uma organização necessita ter para estar adequada a LGPD?
1.Digitalização
Um primeiro cuidado com a LGPD é digitalizar os processos que ainda não foram digitalizados – é indicado que isso seja implementado o quanto antes. A atividade facilita a forma de gerir a informação e também a governança sobre ela. Ao digitalizar um conteúdo a sua empresa pode aproveitar também para questionar a real necessidade dos dados que ela quer manter buscando minimizar sua captura e descartar os que não são realmente necessários.
“A gente está saindo de um estado, em que, por sua natureza, a gente solicita muitos dados, porque até então não havia problema. Agora é uma nova era que a gente precisa questionar”, ressalta Marco Aurélio.
2. Experiência
O cliente final sempre quer ter uma experiência direcionada para a sua realidade. O segundo cuidado com a LGPD é deixar claro para quem contratar o seu serviço que a vivência que ele terá é relacionada com a quantidade de dados fornecidos. Quanto mais informações forem divulgadas, mais aquela marca conhecerá o usuário e conseguirá proporcionar um resultado final único e completo.
3.Análise preditiva
“A análise preditiva é basicamente a possibilidade de uma empresa construir um motor olhando para os dados históricos com o objetivo de responder uma pergunta”, explica Marco Aurélio. Ou seja, isso significa que as perguntas de um negócio poderão ser respondidas através da análise de dados. O terceiro cuidado com a a LGPD é que a equipe de dados precisa tomar muito cuidado sobre quais dados ela tem para trabalhar e não utilizar eles de forma indevida.
Um caso de uso indevido, por exemplo, seria uma Seguradora de Vida não aceitar uma pessoa que tenha maior probabilidade de ter problemas de saúde e, consequentemente, precisar utilizar o seguro com maior frequência. As empresas da área da saúde de forma alguma podem utilizar dados de uma pessoa para poder calibrar ou negar algum serviço na área.
Como se proteger de assistentes virtuais?
Lexa, Siri, entre outras assistentes virtuais trabalham no modelo de ecossistema e marketplace. Então quanto mais serviços os proprietários vão adicionando naquele assistente, mais interessante ele fica e com uma maior base de dados.
Para tornar esse serviço mais seguro é importante que o assistente virtual sempre peça permissão para acessar e compartilhar os dados de seus proprietários. Uma forma de fazer isso é com solicitações que já são comuns ao acessar um aplicativo novo, onde você autoriza o acesso ao seu perfil, endereço de e-mail, fotos etc. Somente com esse tipo de consentimento ele terá uma maior controle sobre os dados que serão disponibilizados.
DPO vai virar um robô?
Data Protection Officer (DPO) é o profissional responsável por aconselhar e verificar os dados pessoais de terceiros, sempre obedecendo a LGPD. O especialista Mauro Aurélio acredita que o DPO não vai virar um robô, mas sim trabalhar em conjunto. Dessa forma, uma pessoa vai atender as solicitação dos clientes e utilizar os robôs para buscar as informações necessárias.
“Dentro de uma matriz de atribuição da DPO, algumas delas podem ser automatizadas, mas aquele ponto de contato com o cliente final, com o titular de dados etc, ele precisa ser feito por uma pessoa ou uma equipe de pessoas”, garante Marco Aurélio.
Qual tendência de inteligência virtual para os próximos anos?
Uma tendência da inteligência artificial é a capacidade de interpretabilidade. Com isso as empresas vão precisar explicar o racional, qual é a interpretação daquele resultado.
Vimos que a partir da implementação da Lei Geral de Proteção de Dados as empresas vão precisar ter um cuidado ainda maior para tratar dos dados pessoais de seus clientes. Essa mudança vai fazer com que os padrões de exigência nesse assunto sejam ainda mais elevados e os dados tenham cada vez mais valor. Com isso surge um novo modelo de negócios para sua empresa aproveitar e inovar ainda mais, acompanhando todas as mudanças e continuando em constante evolução.
Agora que você já sabe mais sobre o assunto, aproveite também para ler o nosso e-book com o Guia completo sobre a Lei Geral de Proteção de Dados para empresas.